segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Comunicação e Inclusão

Volta e meia, afirmamos o orgulho de viver em uma democracia estável, onde todos têm o direito de se expressar – e se expressam. Mas como em quase tudo neste país, há controvérsias.
Nos últimos tempos, o termo “sociedade” tem sido utilizado exaustivamente – e, algumas vezes, levianamente - para designar toda a população nacional. “A sociedade exige”, “A sociedade quer”... É sempre assim.

A evocação da vontade coletiva, por parte dos políticos, para justificar suas atitudes deve nos fazer pensar se, de fato, participamos e exprimimos opiniões e idéias sobre os problemas do nosso cotidiano. Até que ponto fazemos parte dessa “sociedade”, se não existe um canal de comunicação direto entre governantes e comunidade e, até mesmo, entre os membros desta comunidade? E será que todos conseguem participar dela?

É evidente que as mídias de massa (tv, rádio, jornais impressos, revistas) assumem papéis importantíssimos, sendo nossos representantes nessa relação.Apesar disso, é necessário um veículo capaz de transmitir com fidelidade e autenticidade o que se passa no dia-a-dia e na cabeça dos cidadãos, principalmente daqueles que vivem mais a margem.

A comunicação comunitária, livre de interesses financeiros, é uma oportunidade enorme de se conhecer um lado, até então, mantido sob o tapete. Com cultura, linguajar e hábitos próprios, a periferia tenta conseguir o seu espaço e se impor, mesmo com as dificuldades, como parte fundamental e influente no rumo que toma o seu bairro, a sua cidade e o país.
E digo mais: o diferencial desse novo jeito de se difundir informação vai além do produto final, do programa pronto em si. Neste modelo, o processo é muito mais importante, porque é nele que as pessoas interagem e se identificam, as idéias convergem e tudo se torna comum, seja qual for o objetivo matriz de cada televisão comunitária. Elas são o verdadeiro “espelho social”, refletem fielmente a imagem de seus criadores.

Antes de continuar, abrirei espaço para uma auto-citação (me perdoem! Rs). Relembrando um trabalho de universidade que fiz no ano passado, colocarei um pequeno trecho capaz de esclarecer melhor a questão:

“A importância de meios alternativos de comunicação é fundamental na tomada de consciência do cidadão. Assim, ele é capaz de perceber se seus direitos estão sendo respeitados, reconhece a força do coletivo nas lutas pelos direitos e na reformulação dos limites e espaços sociais.
As tvs comunitárias reforçam o “direito de dizer” como uma forma de participação e como base para a modificação das relações autoritárias vividas pela população, conseqüência da posição social que possuem. Através do uso do vídeo, da imagem, o povo se iguala àqueles que governam. O vídeo é importante não só para buscar as soluções, mas também para a coordenação do processo de transformação da realidade.”

“Na mídia televisiva convencional, o morador da periferia faz parte de um imenso contingente de indivíduos anônimos. Já em um canal comunitário, ele é reconhecido como alguém que convive com o grupo. Sua ocupação, família e moradia podem ser identificadas.”


Uma das propostas da comunicação comunitária é fazer dos cidadãos excluídos, cidadãos politicamente ativos. Todavia, ainda há muitas barreiras a se derrubar. A lei que obriga as televisões a cabo a fornecerem um canal exclusivamente as tvs alternativas não é cumprida – nenhuma novidade, não é? – e toda uma programação, cuja qualidade é grande e a intenção melhor ainda, é perdida.
Como já estou me alongando bastante, terminarei aqui. Na próxima vez, se for do interesse de vocês também, eu posso continuar falando mais sobre o tema.

Um breve comentário: É engraçado. Para escrever o texto acima, eu procurava e não achava um tema interessante para falar. Mesmo com tantas informações e notícias, nada me despertou a atenção.
No entanto, uma simples conversa é capaz de nos fazer abrir os olhos um pouco mais e, finalmente, encontrar o assunto perfeito. Nada como um bom bate-papo.
Faça o mesmo. Comunique-se!
EXCELENTE CARNAVAL A TODOS!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Aquele Prêmio Nobel







Edmund Phelps



Esta semana falarei novamente sobre o Prêmio Nobel (leia o texto anterior) e espero que menos afobada e de maneira mais clara. Afinal, aquela era a primeira vez que eu escrevia e um blog. Como uma fissurada em Ciência e leitora da revista Ciência Hoje estou aproveitando para escrever sobre um tema relacionado ao texto do Rafael Oliver (leia o texto anterior), que fala sobre o Mercado de Trabalho.

O prêmio Nobel de Economia de 2006 foi destinado à Edmund Phelps (Professor da Universidade de Columbia, EUA http://pt.wikipedia.org/wiki/Edmund_Phelps) pelo desenvolvimento de uma teoria que relaciona o Desemprego e a Inflação. Pode parecer algo simples, mas não é. Segundo a chamada Curva de Philips (1958) as taxas de desemprego e inflação são inversamente proporcionais,o que pode significar uma reviravolta nas políticas econômicas.

A proposta do Edmund Phelps e Milton Friedman (paralelamente) foi desenvolver uma nova teoria, a chamada “Curva de Philips aumentada por expectativas”, baseada na antiga Curva de Philips.

A antiga curva de Philips (vou chamar assim para diferenciar) era bastante utilizada nos governos dos países desenvolvidos. O governo controla as taxas de desemprego mantendo os níveis de inflação sob controle, e isso é feito por exemplo, diminuindo as taxas de juros, o que aumenta os gastos da população, a produção e é claro, os níveis de emprego. Essa portanto, seria uma maneira de avaliar o impacto da inflação sobre os gastos do povo. A “curva de Philips aumentada por expectativas” pode ser entendida como a aposta de um jogo de pôquer feita por um jogador sem dinheiro: ele quer criar expectativas entre os adversários, e assim deixar parecer que ele tem chances!

Voltando à economia, a nova curva de Philips também relaciona inversamente as taxas de inflação e os níveis de desemprego, mas soma à essa teoria a idéia da expectativa. A idéia é de que a expectativa com relação à inflação poderia causar aumento ou diminuição dela própria. A tentativa de controle do desemprego provocaria um aumento temporário da inflação, tempo necessário para que as expectativas econômicas da inflação sejam levadas para baixo.

A expectativa é um conceito já muito utilizado nas bolsas de valores e nas políticas internacionais. Quem já ouviu falar no risco-Brasil? Os chamados países emergentes atraem e repelem com a mesma freqüência os investidores, que baseados nas expectativas, rapidamente deixam de investir dinheiro no país causando um esquema instável de aumento de taxas de juros e desvalorização da moeda (apesar de uma série de fatores desencadearem esses riscos, e o aumento das taxas de juros, a questão da dívida externa, etc).

O objetivo do governo é manter a taxas de inflação e de desemprego em equilíbrio. No entanto, com essa meta de manter as taxas de desemprego em baixa o governo pode acabar provocando o aumento da inflação e após um tempo surgem os efeitos da insatisfação por parte dos trabalhadores, afinal, eles vêem seus salários sendo engolidos pelos gastos.

Essa política, no entanto, tem se mostrado insuficiente. Tem-se observado é necessário fazer uma escolha: ou se desiste de baixar o desemprego ou aceita-se a hiperinflação. Um exemplo concreto disso é o caso dos países da Europa Ocidental, onde a tentativa de controle da inflação proporcionou uma taxa de desemprego persistente, mesmo com as políticas à favor da diminuição dos gastos de demanda agregada (aqueles com aumento das taxas de juros, por exemplo, onde se diminui o total de gastos econômicos) na década de 1980.

Como essas teoria tem se mostrado falha, é interessante pensar então por que só em 2006 Phelps ganhou o Prêmio Nobel por essa teoria. Esses prêmios realmente são coerentes?

domingo, 13 de janeiro de 2008

O Mercado Ontem e Hoje - Parte I

Em se tratando de mercado de trabalho, a opinião das pessoas é unânime: está difícil conseguir emprego! Quase que diariamente, vemos principalmente nos grandes centros, enormes filas de pessoas na esperança de conseguir uma colocação. Do outro lado estão as empresas, que precisam melhorar sua capacidade produtiva e serem mais lucrativas, e para isso necessitam de profissionais cada vez mais bem capacitados não apenas tecnicamente, mas como pessoas. Mas como conseguir ou manter um trabalho, num mundo cada vez mais exigente e competitivo?

Esta pergunta também foi feita por uma matéria da Revista VEJA (Ed. Abril), em 19 de outubro de 1994, praticamente no berço do ‘boom’ tecnológico ocorrido no Brasil, e que por sua vez, foi mais um fator que contribuiu profundamente para a mudança das relações de trabalho no país. Para tentar esclarecê-la um pouco mais, vamos fazer um pequeno retrospecto.

Até o começo da década de 1990, o perfil do profissional exigido pelas empresas era o de um funcionário que sabia toda sua rotina, se vestia adequadamente, era pontual, assíduo e principalmente cumpria rigorosamente todas as regras estabelecidas na organização. Se falasse inglês ou outro idioma, era considerado no mínimo ilustre.
A partir de 1994, todo esse paradigma veio abaixo. Esses atributos deixaram de ser diferenciais e passaram a ser necessários. Falar inglês passou a ser fundamental, em virtude principalmente da globalização, que para as empresas representa o mercado não se restringir a apenas um país ou região, e sim ao mundo inteiro. A tecnologia possibilitou que as distâncias fossem reduzidas, diminuir custos, melhorar processos e substituir o homem em tarefas repetitivas, rotineiras e principalmente pesadas. Além, é claro, aumentar a produtividade.
Devemos destacar também aquelas características as quais não aprendemos em nenhuma faculdade ou palestra oferecida na empresa. Estamos falando de atributos como saber trabalhar em equipe, ser otimista, saber vender idéias, capacidade de negociação, saber ouvir críticas e transformá-las em algo positivo e ser flexível.

A conseqüência de todo esse processo de mudança, por mais simples que seja a função, é que as empresas estão exigindo cada vez um nível maior de qualificação por parte dos candidatos na hora de contratá-los, e requerendo ainda características como criatividade, ampla visão da organização e do mundo, que atualmente são como essenciais para um bom desempenho em um mercado globalizado e competitivo.

Visto isso, candidatos e profissionais devem investir em conhecimento e principalmente no desenvolvimento de habilidades para enfrentar os grandes desafios propostos, pelo agora gigante mercado - o mundo - cada vez mais feroz e dinâmico.
Fico por estas linhas, até a próxima!

[Ao som de Ida Corr – Let Me Think About (tuntz, tuntz, tuntz... xD)]

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

No fim, todos falamos português.

Meus caros, é noite de ano novo. Despido desse sentimento de renovação, recomeço, etc e tal, encontrei o momento e a calma para escrever sobre um tema que considero importante, mas sobre o qual nunca havia pensado tanto quanto nos últimos tempos: preconceito lingüístico.
Talvez, seja necessário muito mais do que este pequeno texto para exprimir toda a minha opinião e dúvidas sobre o assunto.
Em uma longa conversa que tive com um amigo, estudante de Letras da UERJ, foi-me apresentada uma nova questão referente ao nosso idioma: “Quem fala de forma diferente do padrão da língua portuguesa fala errado?” Após muito discutirmos, chegamos à conclusão - na verdade, fui convencido - de que não. O erro está em não aceitar essas variações, presentes não só no Português, como também no Espanhol, no Inglês, no Francês e em todos os outros códigos lingüísticos que existem (ou existiram), em maior ou menor grau.

As variações a que me refiro são principalmente aquelas pertencentes ao campo gramatical. Exemplos não me faltam. São “discordâncias nominais e verbais”, “regências trocadas” e por aí a fora. Citarei dois casos muito comuns e que, vez por outra, são vistos com extremo preconceito por aqueles que se julgam dominantes da norma culta da língua, quando, na verdade, são os que a mais ignoram. Antes de continuar a explicar, é necessário esclarecer que somente consideramos variação, e não um erro, as expressões a que grande parte da população ou de uma comunidade aderiu, seja de forma consciente ou não.

Mencionarei primeiro o clássico “A gente fomos”... ou se preferir, “Nós vai”. Ainda há expressões do tipo “As menina foi” e “Os carro parou”... É sabido que quem fala do jeito mostrado acima, provavelmente, tem baixa escolaridade. E, por isso, são, freqüentemente, ofendidos e mal vistos. Uma atitude incorreta e absurda! Eu sei que em alguns de vocês, leitores, essas frases causam mais do que estranhamento, provocam uma irritação fora do comum. Para não dizer que sou 100% sem preconceito, digo-lhes que aquele famoso “mim” utilizado como sujeito, modo tão adorado pelo povo, me tira do sério. Perdão!

Entretanto, curiosamente, os equívocos lingüísticos praticados pela elite econômica - e acadêmica - deste país nem são percebidos. Sem querer entrar no mérito político da questão, são as encarnações perfeitas do que foi escrito até agora Lula e FHC. Poucas vezes – ou jamais na história desse país -, viu-se um Chefe de Estado fugir tanto da gramática normativa da língua quanto o faz o atual Presidente da República. Em algumas pessoas, causa vergonha. Poucas vezes também, viu-se tanta discriminação contra o ocupante do cargo maior da nação. Enquanto isso, os “erros” cometidos por FHC e pelos muitos políticos de direita são esquecidos (Leia a coluna de Gilson Caroni, na Carta Maior).

Nós, brasileiros, temos de mudar. Obviamente, não devemos abandonar as regras que organizam as nossas frases, os nossos discursos, sob o risco de o idioma se tornar uma grande salada. Os cidadãos devem, claro, ter acesso à boa educação, ao ensino culto da língua, para que tenham maiores oportunidades, mas jamais devem ter seu modo de se expressar, fruto do seu ambiente social, censurado ou desmerecido por quem quer que seja. Temos sim de nos adequar ao lugar onde estamos. “Se estou entre amigos, falo de um jeito mais descontraído, relaxado. Se estou em um meio acadêmico ou de trabalho, falo de modo mais formal.” Na minha visão, é assim que tudo deve funcionar. Cada local, cada "tribo", tem sua particularidade, tem seu linguajar.
Desejo que o leitor veja os diversos modos de dizer e, até, escrever como transformações naturais de todo idioma. Faz parte de um processo evolutivo, que, aos poucos, vai moldando as novas regras gramaticais.

O importante é se comunicar e aprender a respeitar as diferenças... Até no Português.
Afinal, o errado de hoje pode ser o certo de amanhã.
Em outra oportunidade, falarei mais e melhor sobre isto.
Feliz Ano Novo a todos.