quinta-feira, 14 de abril de 2011

O tempo para sim!


Tempo para se fazer o que se quer... É raridade. Um dia passa como uma hora. A hora como minuto. E nossa vontade não fica com um segundo sequer. Taí. Esse é um dos privilégios de um turista: o poder de administrar o tempo, ou boa parte dele.

Em Buenos Aires, no verão, até o mais impontual dos brasileiros – e sabemos que são muitos – tem a sensação de que tudo está dentro do previsto. O Sol nos brinda com nada mais do que 13h, 14h de luz e calor. Nada como pensar, às 21h, que ainda é cedo. Evidentemente, um saboroso engano.

No entanto, esta cidade portenha é mais que o dia. Ela é, principalmente, a noite. Os próprios nativos garantem. Não que revele beleza impactante. Muitas vezes, as ruas vazias após às 22h parecem frustrantes, sinistras. Porém, logo um taxista explica: “Nessa época, muitos argentinos viajam para o interior ou para as praias”. Comprovado, inclusive por outras fontes mais confiáveis – nada contra taxistas.

Na TV, rodoviárias lotadas de malas e gente deixando a capital. Parecem ceder-nos espaço. E precisamos mesmo. Para onde se vai, principalmente, a falada Calle Florida, brasileiros entopem galerias e lojas e agitam os mercados formal e informal. Nada como sentir-se quase em casa. E em lugar aparentemente improvável.

Contudo, percebe-se aspectos marcantes da personalidade local. Monumentos não nos deixam esquecer que estamos num país que preserva sua memória. De muitas estátuas e bustos em homenagem aos heróis da Revolução até a pequena Mafalda, famosa personagem de quadrinhos, eternizada num pequeno banco em uma esquina no bairro de San Telmo.

Na última e fria madrugada vivida na cidade, pude fazer uma visita a ela, sempre sorridente e alegre. Contraste com as sérias pichações políticas que tomam conta dos muros, das bancas, das vias, dos monumentos. Além das faixas de protesto. Bonito ou feio, é um sinal dos tempos... atuais e antigos.

As avenidas extremamente largas, cortadas por pequenas ruas, que mais parecem becos. De La Boca à Recoleta, o choque entre cenários "suburbanos" e refinados, respectivamente. Muitos poderão dizer que tudo isso está em qualquer grande cidade. Não discordo.

Mas há algo diferente lá. O choque do moderno com o velho me deixou uma indecisão. Diversas vezes, afirmei: “Parece uma cidade dos anos 90, com suas Mirindas e 7UPs”. Será? A bebida certamente não é um critério justo. No entanto, para quem quer esquecer da vida, parar o tempo e se divertir, Buenos Aires cumpre seu papel. O atraso da noite é certamente um charme a mais.

Foto: Plaza de Mayo (Autor: Rafael Barbosa)

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